UM DIA COM UM PERITO CRIMINAL

A proposta desta publicação é, pelo menos, informar como é um dia de trabalho comum deste profissional. Vale ressaltar que o que seguirá nas linhas abaixo são fatos verídicos e que ocorreram em apenas um dia de plantão. Vamos ao início de um plantão de 24 horas?Um pouco antes das 8 horas da manhã já deve-se estar pronto para assumir sua jornada, portanto, dirijo-me para o Instituto de Criminalística de minha regional com antecedência.
O primeiro item, na prática, indicando que se iniciam seus trabalhos é o ato de pegar o telefone funcional do outro plantonista. A partir deste momento qualquer acionamento de ocorrência será de minha responsabilidade. Outra medida importante antes de sair para atendimento é a verificação das condições das maletas forenses, lanternas, luvas, cadernos de anotações, mascaras, câmeras fotográficas, trenas, GPS, swabs, capas de chuvas, canetas, lápis, entre outros.Estando tudo em ordem, parto para frente do computador para redigir laudos de atendimentos anteriores e aguardar as possíveis ocorrências. E não demora muito. Por volta das 9:15 a delegacia de polícia me liga para atender um local de furto com arrombamento. A Polícia Civil informa os dados do local do atendimento e a equipe de perícia, formada por mim, perito criminal e um auxiliar de perícias, se dirige para o local que fora palco do crime. Neste caso o deslocamento não leva muito tempo e já estamos prontos para colher os dados com a vítima, averiguarmos o imóvel, coletarmos vestígios e liberarmos o local para os proprietários procederam a limpeza e concerto dos cômodos avariados. Terminado o primeiro atendimento externo do turno, quase que imediatamente em seguida, foi solicitada a realização de exame preliminar em alguns tabletes de maconha apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal. Sendo assim, nos dirigimos para a delegacia de polícia para realizar o exame na droga. Lá fazemos averiguações, medimos a massa da droga, colhemos amostras para exames definitivo em laboratório e no mesmo momento emitimos um Laudo Preliminar atestando que se trata de maconha.Já são quase 11 horas e voltamos para a base, resolvemos almoçar enquanto não acontecia outro atendimento. Por sorte, conseguimos almoçar sem maiores problemas. Volto para o posto de trabalho a fim de redigir os laudos e continuar o trabalho.
Por volta das 13horas, infelizmente, acontece um acidente de trânsito com vítima fatal em um município distante 300 quilômetros da base. Como somos a equipe designada para a região nos deslocamos até lá. Após quase 4 horas de viagem, em estrada simples, esburacadas e em mau estado de conservação chegamos ao destino. Tratava-se de um veículo sedan médio que ao tentar ultrapassar colidiu frontalmente com um caminhão com dois reboques (conhecido como Bi Trem) que trafegava no outro sentido. A demora pela nossa chegada é cobrada pelos familiares, policiais e imprensa local, contudo, explicamos que pela ausência de servidores nos municípios mais próximos o nosso deslocamento foi de 300 quilômetros para chegar ao local do acidente. Dadas as explicações devidas, partimos para a coleta das informações preliminares como ouvir possíveis testemunhas, informes de sobreviventes, etc. Em seguida começamos o exame objetivo do local como a medição da via, estudo das marcas deixadas no asfalto e acostamento, situações dos veículos, coleta do tacógrafo do caminhão, análise das lesões na vítima fatal, bem como sua posição no veículo.Devido às avarias no sedan médio, não foram possíveis testes no sistema de freio e direção no local do acidente. Mas, caso necessário, realizaremos exames complementares no veículo, visto que o mesmo ficará retido no pátio da delegacia do município.Findado o atendimento, liberamos os veículos que serão encaminhados para a delegacia e a vítima que será encaminhada para o Instituto Médico Legal. Nós nos deslocamos de volta para a base. Chegamos na sede por volta das 21h e 30 minutos, extremamente cansados, após rodar 600 quilômetros para atender uma única ocorrência e meu colega de plantão lembra-me que o plantão ainda estava apenas na metade.Como já havia terminado o horário comercial de atendimento na sede, partimos para o jantar e um merecido banho em nossas residências para continuarmos em prontidão. Só ressaltando que a base não dispõe desta estrutura para atender essas necessidades básicas para turnos ininterruptos que a profissão exige.
Após algumas horas o telefone funcional toca, é quase 1h da manhã, e nós somos acionados para atender um homicídio em um município distante 200 km da base. Até realizarmos o deslocamento e localizarmos o local, chegamos no imóvel em que aconteceu o crime por volta das 3 horas e 45 minutos. Foi mais um crime cometido por arma de fogo em que a vítima veio a óbito com três tiros na região do peito. Tomamos as medidas necessárias para a devida coleta de vestígios, fizemos as medições, análise do sangue, dos estojos de munição e dos projéteis (bala) encontrados no local. Em seguida analisamos o cadáver, suas caraterísticas, as lesões, possíveis identificações (tatuagens, marcas, documentos em suas roupas) e estudo das vestes entre outras coisas. Após todos os procedimentos realizados liberamos o corpo para ser encaminhado ao IML para elaboração do exame necroscópico e em seguida liberamos o local para os parentes da vítima. Ato contínuo retornamos para a base e nos demos conta de que já era quase 7h30 min e ficamos por ali até às 8 horas para a troca do plantão.
Com a chegada do colega, entrego o telefone funcional e me dirijo para casa, tomo uma bela ducha e durmo por 10 horas seguidas. Quando acordo me lembro que tenho que redigir tudo que constatei e observei nas últimas 24 horas, ou seja, ainda tenho que elaborar os Laudos Periciais.